Matéria original no G1 - Por Janaína Lopes, G1 RS - Foto divulgação, Bar Agulha
O pequeno trecho sem saída da Rua Conselheiro Camargo, no 4º Distrito de Porto Alegre, deve ganhar uma cara nova. O projeto de requalificação urbana é realizado por um bar instalado há três anos no local, com auxílio da comunidade, da prefeitura e de parceiros.
As intervenções já começaram, com a instalação de iluminação de led e lixeiras, entre outros reparos, pela prefeitura, conforme o sócio do Bar Agulha, Eduardo Titton Fontana.
"Desde que a gente foi pra Conselheiro, víamos um potencial na rua sem saída, pela região e pela configuração dela, de ser uma rua curtinha com um cenário peculiar", comenta o empresário,. O bairro tem característica industrial, com muitos galpões e silos.
Além disso, itens como coleta de lixo e pouca iluminação precisavam de melhorias, como observou o empresário. Assim, surgiu a iniciativa de requalificar a rua, conta. "Afinal de contas, é um local que a gente passa todos os dias", afirma.
O projeto foi apresentado para a prefeitura, que deu as licenças e iniciou a parceria para as implementações. Um investidor privado concedeu parte do aporte financeiro, de cerca de R$ 40 mil. E o escritório de urbanismo Translab Urb foi contratado para idealizar o projeto.
Mais verde e espaços de convivência
A nova cara da Conselheiro Camargo surgiu após consulta com a comunidade do entorno da rua, tanto de moradores e empresários, quanto de frequentadores do bar.
Como explica Titton, foi um processo de cocriação, em que mais de 80 pessoas foram ouvidas sobre como desejavam que a rua fosse, para melhor proveito.
Das conversas, surgiu a demanda por mais espaços verdes da rua. "Sentiam ela muito árida, muito inóspita. Também uma percepção de que umas pessoas acabavam sentando em pedras empilhadas, [surgiu a] demanda por espaços de lazer em convívio", comenta.
O projeto prevê quatro minipraças ao longo de uma quadra da Conselheiro Camargo. Cada uma delas terá área de grama. Entre elas, serão instalados bancos, floreiras, lixeiras e bicicletários. Novas árvores serão plantadas.
O projeto prioriza o uso do concreto liso nas praças, para acessibilidade, além de materiais já característicos da região, como paralelepípedos, ferro e madeira. Em uma das praças, haverá uma mesa de concreto com seis lugares, e na última, junto ao fim da rua, terá uma plataforma metálica, para servir como banco.
A prefeitura está no local desde o início de agosto, para reparos no meio fio e no calçamento. A previsão é que na próxima semana comecem as obras de mobiliário e paisagismo, conforme Titton.
Quando essa parte estiver concluída, mais duas etapas estão previstas: um concurso para criação de dois brinquedos públicos, demanda apresentada pelos moradores por atrações para crianças, e intervenções artísticas, com pintura de grafites e outras artes urbanas nos muros da rua.
A zeladoria ficará a cargo do bar, com a assinatura de um termo de responsabilidade pela manutenção da rua, diz o empresário.
Necessidades dos moradores
Um dos integrantes do Translab Urb, Leonardo Brawl Márquez, explica ao G1 que o projeto foi norteado principalmente pelas necessidades dos moradores da região.
"É um publico que trabalha na volta e precisa de um lugar no intervalo do almoço, tem um perfil industrial, grandes galpões. Não tem praça perto, é meio carente nessa questão do mobiliário urbano´", explica.
Há também um grande movimento de caminhões, que estacionam na rua para irem em galpões nas ruas adjacentes.
"Se serve para eles, o público do bar também vai usar, com lugar pra sentar, ser um ponto de encontro, essa é a ideia", afirma.
Segundo o sócio do Agulha, o projeto ganhou uma "segunda camada de importância" devido às perspectivas de retomada de atividades noturnas na cidade.
O bar continua atendendo em uma loja online, vendendo bebidas e outros produtos. "Mas no retorno talvez essa rua seja tão importante para nós quanto a lojinha", reconhece.
Trabalho colaborativo
Para o diretor de Inovação da prefeitura de Porto Alegre, Paulo Renato Ardenghi, pelo fato de o projeto ser um trabalho colaborativo entre poder público, entes privados e a própria comunidade, foi possível desburocratizar o processo que seria necessário para realizar intervenções na rua.
"Mesmo com a pandemia, a gente conseguiu avançar de uma maneira super ágil, conseguindo executar alguns serviços pra poder avançar nesses processos. Um trabalho muito colaborativo, totalmente diferente do que a gente via, que era o empreendedor tentando aprovar um projeto e a prefeitura negando", observa.
Caso o projeto seja bem sucedido, o diretor afirma que o modelo pode ser replicado em outras partes da cidade. Há uma iniciativa semelhante de cocriação na Vila do Planetário, explica.
"Aí tem uma outra mudança de modelo mental: a prefeitura aplicando recursos através de serviços, entendendo a importância do projeto e o empreendedor também investindo recurso porque sabe que a rua é importante pro negocio dele", ressalta.
O projeto da Conselheiro Camargo é uma das ações da iniciativa Hands On 4D, que surgiu dentro do programa Pacto Alegre, para pensar e executar soluções inovadoras para a cidade.