O século 21 é o século das cidades, define estudioso da área. Nesse contexto, é preciso pensar o entorno urbano a partir de premissas que unam o ensino e a criatividade
Por Jorge Audy
Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS e do Tecnopuc
Texto original
Porto Alegre chega aos 250 anos com enorme vitalidade e acúmulo de realizações que moldaram sua atual configuração como cidade e como sociedade. Vivemos e superamos muitas crises ao longo desse tempo. Não é diferente hoje. A crise atual acelerou as desigualdades em um mundo globalizado, assimétrico e carente de lideranças. A situação requer que sejam reforçados os valores da vida, da justiça e do cuidado. Solicita a reflexão e a prática de um novo humanismo. Um humanismo como atitude, uma nova forma de estar no mundo e se relacionar com a natureza e com os outros. E fazer isso de forma cooperada, fraterna. Juntos.
Porto Alegre é resultado de acúmulos de processos sociais e de diferentes culturas e etnias. Surgimos como cidade em um momento de mudanças globais muito fortes, fruto do impacto das revoluções industriais nos séculos 18 e 19, que transformaram o mundo ocidental. Desenvolvemos uma cultura própria, que surge no Império e segue pela República, que se desenvolve a partir de um modelo feudal de produção que avança para a industrialização e segue pela revolução da tecnociência da segunda metade do século 20. Uma cultura forjada ao longo de dois séculos e meio que muito nos orgulha e estimula a refletir e trabalhar para continuarmos perseguindo os valores da vida, da liberdade, da justiça e da responsabilidade social.
Nas últimas décadas, vivemos experiências civilizatórias que moldaram a capital dos gaúchos. O surgimento de uma indústria tecnológica pioneira no país e de reflexões críticas ao modelo de desenvolvimento em torno dos Fóruns Sociais Mundiais. Finalmente, os esforços de reposicionamento da nossa cidade como um ecossistema de inovação de classe mundial, que transforme o conhecimento gerado em nossa terra em riqueza e desenvolvimento social, econômico, ambiental e cultural.
O século 21 é o século das cidades. As novas tecnologias e a globalização mudaram radicalmente os sistemas sociais e produtivos. As cidades devem estrategicamente criar entornos que favoreçam a criatividade das pessoas e a inovação. Devem se constituir como um ecossistema de criatividade e inovação, que atraia talentos globais e gere conhecimento, dando ignição ao processo de geração de riquezas e desenvolvimento social e econômico.
Nesse sentido, emergem os dois fatores centrais para nossos próximos 250 anos. A inovação, hoje florescendo com força em nossa cidade, resultado de acúmulos importantes desde o final do século passado (Porto Alegre Tecnópole, Cite – Cidade, Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo, Agência de Inovação e o Pacto Alegre). Fruto da Aliança para Inovação de Porto Alegre, resultado da articulação das nossas maiores universidades (UFRGS, PUCRS e Unisinos), o Pacto Alegre é um movimento com muita energia transformadora, que já gerou resultados importantes como o Instituto Caldeira, as revitalizações do Centro e do Quarto Distrito, a Marca de POA, o Projeto Cidade Educadora, o South Summit Brazil, dentre outros.
A educação é nosso maior desafio para o futuro. É o que vai definir o que seremos nos próximos séculos e o legado que deixaremos para as futuras gerações. Como encaminharmos a questão vai definir o que seremos no futuro. A educação é um pré-requisito até para definirmos quais são nossas prioridades. Sem uma educação de qualidade e inclusiva, não teremos futuro. É pela educação que teremos condições de resolver nossos desafios: da segurança à mobilidade urbana, da política à preparação para o desenvolvimento profissional, do respeito à diversidade à redução das desigualdades. Simples assim. Complexo assim.
Zygmunt Bauman, abordando a temática do mundo líquido, afirma que o comportamento dos sistemas complexos com muitas variáveis mutuamente independentes é e sempre será imprevisível. Assim, o futuro é imprevisível por que está, pura e simplesmente, indeterminado. Nesse sentido, cabe a nós cocriarmos nosso futuro, juntos, transformando a educação de qualidade e inclusiva no nosso passaporte para os próximos 250 anos. Estamos falando de uma verdadeira oportunidade de transformação educativa, inovadora, que afete significativamente as bases epistemológicas, antropológicas, éticas, políticas, culturais, econômicas, sociais, ambientais e metodológicas. Pelo bem da humanidade e do futuro de todos nós.
_________________________